terça-feira, 3 de março de 2015

Sobre Através de um espelho (1961)

Uma amiga me perguntou o que eu achava desse filme, qual a minha opinião, qual a minha explicação, e apesar de eu normalmente não escrever sobre esse tipo de interpretação, eu vou colocar o texto aqui (de uma conversa no chat facebook) e, quem sabe, isso pode ajudar alguém ou gerar uma discussão interessante.

Primeiro, que é importante, destacar que o título do filme tem à ver com esse versículo bíblico:

For now we see through a glass, darkly; but then face to face: now I know in part; but then shall I know even as also I am known.

Coríntios 13:12 Por enquanto vemos através de um espelho, escurecido; mas então, face a face: agora eu sei em parte; mas então conhecerei tanto quanto sou conhecido.

Essa tradução é minha, direto do trecho em inglês.

Na minha humilde opinião, e posso estar errada com certeza, esse trecho trata-se de um diálogo com Deus, e é sobre a vida e sobre nós mesmos. O que acontece é que, assim como no filme, não temos dimensão da nossa própria vida e nem de nós mesmos de maneira completa: vemos através de imagens turvas e obscurecidas, que nos enganam e nos mostram apenas uma verdade parcial.

No filme, os personagens tentam ajudar Karin à se restabelecer, mas estão muito distantes disso: ela é uma doente incurável e só tende a piorar, até chegar ao ponto da loucura extrema. O pai tenta se afastar para poder lidar com isso melhor, o marido se dedica inteiramente, abdicando da própria vida, o irmão tenta fazer o possível pra compreender e ficar ao lado.

É mais ou menos como se fossem as três posturas básicas que as pessoas normalmente têm ao lidar com problemas. Por exemplo, se sua família tivesse um ente querido na mesma situação, você iria ver que sua família e as pessoas em geral teriam comportamentos parecidos com os dos personagens do filme - ausência, comprometimento, vontade de entender/aceitar/ (e até negar a doença).

Retornando ao versículo: enquanto vivemos, vemos apenas parcialmente a verdade da vida e dos fatos, pois não podemos compreender o todo e nem enxergar à todos os ângulos. Quando em face a face com Deus nós conheceremos a verdade e por ela seremos conhecidos.

Ou seja, mesmo que seja muito duro entender as doenças que levam nossos entes queridos da maneira mais dolorosa e difícil possível, e que a gente não entenda por que Deus faz isso ou por que precisamos lidar com isso, só com Deus podemos entender e sermos compreendidos inteiramente. Posteriormente, quando questionado pelo filho se Deus existe, o pai diz que não sabe se o amor é a prova de Deus ou se Deus é, em si, amor.

Então o amor, por todas as coisas, e que faz com que a gente enfrente os sofrimentos - ver alguém sofrer e ajudá-lo, mesmo sem saber se a pessoa vai se curar, ou sabendo que ela vai morrer de qualquer jeito - é uma prova de Deus, uma prova de amor.

Foi isso que eu entendi.

domingo, 1 de março de 2015

Top filmes de Ingmar Bergman

Depois de assistir aos filmes do diretor, escolhi os que gostei mais e estou convidando quem quiser conhecer o trabalho do diretor. Caso você queira assistir online, é só clicar nos nomes dos filmes, nos títulos, e abrir o link para o youtube. Todos estão com legendas em português.


A fonte da Donzela, assim como O sétimo selo, é um filme com estética medievalista. Tem um enredo simples, que trata da ida de uma jovem donzela até uma cidade, um tipo de tradição que as jovens virgens participam. No meio do caminho, ela é abordada por três assaltantes, e há uma reviravolta na história.


Gritos e Sussurros trata do momento da morte de uma de quatro irmãs. Todas estão reunidas em uma mansão e esperam, cada uma à seu modo, pela morte da irmã, que sofre dores terríveis. A fantasia se mistura à vida, e a morte torna-se uma passagem para a verdade.



Dreams é um dos filmes mais simples dos que estão selecionados aqui, e trata de duas mulheres que estão fazendo um trabalho em conjunto: uma é a produtora de moda, a outra é a modelo. Ambas estão vivendo uma crise em seus relacionamentos.





Morangos silvestres, assim como grande parte dos filmes do diretor, trata da maturidade e dos questionamentos que vêm com esse período da vida pelo qual todos iremos passar. 


Em uma maternidade, três mulheres grávidas esperam para saber o que seus destinos lhes reservam. Elas são diferentes, pensam diferente e estão No limiar da vida.


O sétimo selo é um filme de estética medieval e trata de um grupo de pessoas que faz uma viagem em conjunto. Um deles joga xadrez com a morte, de modo a adiar seu momento final.


Persona é um filme complexo, principalmente estéticamente, e muito fragmentado. É assim por que explicita visualmente os dramas vividos pelas duas personagens que estão em busca de suas verdadeiras personalidades.


Em Sonata de outono é possível ver um doloroso, embora necessário, embate entre mãe e filha; elas não conseguem se relacionar e vivem uma difícil relação de ciúmes, dor e distanciamento.


O verão com Mônica é um dos primeiros filmes dirigidos por ele e que estão nesta seleção, recomendo começar a assistir por ele. Mônica é uma adolescente pronta para florescer enquanto viaja com um namorado, nas férias, pela orla da Suécia.


Os três últimos, O Silêncio, Através de um espelho e Luz de inverno são parte de uma trilogia de Bergman sobre o homem e seu relacionamento com Deus. Em silêncio, duas irmãs vivem um difícil relacionamento enquanto estão num hotel quente e abafado.


Em através de um espelho, Karin está à beira da loucura e seus famíliares se esforçam para resistir à dor e ajuda-la.


Em Luz de inverno, o padre de uma cidade pequena luta para reinventar sua fé após perder seu amor maior, sua esposa.


Em cenas de um casamento, Marianne e seu marido Johan vivem momentos de dor, quando uma traição abala as estruturas de um casamento perfeito.


Um artista isolado numa ilha tenta não enlouquecer diante do passado e das cobranças do futuro em A hora do lobo - filme complexo e fragmentado, assim como Persona.